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Em clima de celebração, Estação Cidadania é inaugurada no São Francisco

Em clima de celebração, Estação Cidadania é inaugurada no São Francisco

11/08/2023
Toledo e, em especial, as comunidades do São Francisco, Panorama e demais bairros do entorno, estão em festa com o início oficial das atividades do Centro de Iniciação Esportiva (CIE)/Estação Cidadania Doutor Jomah Hussein Ali Mohd Rabah. Prestigiada por autoridades e lideranças em nível estadual, regional e municipal, a solenidade de inauguração da maior estrutura de esporte do município foi realizada no dia 21 de julho e contou com a presença de centenas de moradores daquela região da cidade.
O CIE está situado numa área com 24 mil metros quadrados, onde foram construídos ginásio poliesportivo com 1.795 metros quadrados e quadra esportiva com 760 metros quadrados (ambas com piso emborrachado), além campo de futebol com gramado natural. Neste espaço, que ficará sob gerência da Secretaria de Esportes e Lazer (Smel), será ofertada iniciação esportiva de crianças e adolescentes em diversas atividades que serão desenvolvidas por técnicos desportivos do município e também por meio de projetos e parcerias: break dance, badminton, futsal, futebol, handebol, ginástica, karatê, voleibol, basquete, capoeira e judô – para os adultos, haverá atendimento em treinamento funcional e pilates.
Somando recursos federais e contrapartidas do município, quase R$ 7,4 milhões foram investidos no CIE. De imediato, o equipamento público terá capacidade de atender, de forma regular, 200 crianças e adolescentes com idade entre 7 e 18 anos.
Protocolo - Quem também marcou presença foi a família de Jomah Hussein Ali Mohd Rabah, advogado e professor universitário que dá nome ao CIE. No início do protocolo oficial da solenidade, foi feito um breve relato de sua biografia de incontáveis serviços em favor do Direito, do esporte e da administração pública, trajetória que foi interrompida em março de 2021, aos 52 anos de idade, com o seu falecimento causado pela Covid-19 (confira a biografia completa no fim de semana).
Servidores de vários setores do governo municipal que viabilizaram a obra também foram reconhecidos por seu esforço e competência. Outro detalhe que fez toda a diferença foi o trabalho realizado por duas intérpretes a serviço da Central de Libras.
A frente de honra foi formada pelo o prefeito de Toledo, Beto Lunitti; o presidente da Câmara de Vereadores, Dudu Barbosa; o titular da Smel, Eudes Luiz Dallanol; a coordenadora do CIE, Aline Back Turmina; a presidente da subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Anemere Dulaba; as representantes dos deputados federais Sérgio Souza e Elton Welter, Cleci Loffi e Nelci Welter, respectivamente; e Ramires Rodrigues de Souza, da Superintendência Executiva de Governo Oeste do Paraná da Caixa Econômica Federal, instituição responsável pela medição e pelos repasses da União para a obra. Liderados pela matriarca Farha Hussein Ali Mohd Rabah, a família de Jomah compareceu em peso ao evento: os irmãos Haula, Ruayda e Ualid; os sobrinhos Ayman, Gabriel, Khaled, Nur e Sofria; os cunhados Cassiana e Mohammad; os filhos Ana Maria e Vinícius (frutos do casamento com Ana Carla, também presente), a esposa Solange e o enteado Alexis, a quem o homenageado chamava de “filho do coração”.
Antes da fala das autoridades, houve apresentações desportivas e culturais que compõem as modalidades que a Estação Cidadania oferecerá: capoeira, com roda comandada pelo professor da escolinha da modalidade, Cleverson Morgan Garicox; basquete, com minijogo no qual atletas da Associação de Basquetebol de Toledo (Abatol) que compõem as seleções masculinas e femininas infanto-juvenis de Toledo estiveram em quadra para um duelo em que a equipe de uniforme preto venceu a que vestia azul pelo placar de 10 a 4; brake dance, com quatro performances de artistas dos grupos Quinta Essência, Associação de Hip Hop e Fórum de Dança.
Pronunciamentos - O primeiro discurso foi do secretário de Esportes e Lazer, que contou, em linhas gerais, a trajetória do CIE desde o momento em que o governo municipal manifestou desejo de ter um em Toledo, em 2013. “Depois de tantos percalços, hoje é dia de celebrar a vida, sobretudo a do Jomah, que não está mais entre nós. Gostaríamos muito de estar com ele aqui neste momento, pois foi um dos principais responsáveis pela viabilização desta obra junto ao governo. Infelizmente, ele partiu de forma prematura e dar o nome dele a esta estrutura foi uma maneira de expressarmos gratidão eterna”, comenta Eudes.
Ualid afirmou que a inauguração da Estação Cidadania em nome de seu irmão é o momento mais marcante da história de sua família, que chegou a Toledo na década de 1960. “Ficamos lisonjeados com a homenagem, ainda mais em ter o nome do Jomah associado a mais moderna e completa estrutura de esporte do nosso município, construída num bairro distante do Centro, o que, por si só, representa o rompimento com a lógica vigente em nosso país de deixar os mais pobres bem afastados das conquistas civilizacionais. Também faz justiça à comunidade árabe, que está no Brasil desde 1850, mas que sempre foram excluídos dos projetos governamentais de colonização, que davam prioridade aos europeus. Dessa maneira, coube a nós sermos vendedores ambulantes, mais conhecidos como “mascates”, os “bandeirantes sem armas”. Meus pais não trouxeram parentes quando vieram para cá e não convivemos com tios, primos e avós, mas os amigos que fizemos aqui supriram esta falta”, recorda. “O CIE é um engenho de humanismo, que faz jus à biografia do Jomah, um homem que via no esporte uma ferramenta de inclusão e dignidade humana, que trabalhou sempre em prol daqueles que costumam ser esquecidos nas planilhas do poder público. Inspirado na minha mãe, que, na hora do velório do nosso irmão, disse que o filho não tinha morrido, mas ‘mudado de pensamento’, afirmo que ele jamais morrerá, pois sua presença permanecerá viva”, salienta o irmão, que também fez reverência ao artista plástico Isaac Souza de Jesus, que pintou, em grafite, um painel em que o rosto de Jomah aparece ao lado de elementos que traduzem sua trajetória: o basquete, o Direito e sua origem palestina.
Solange também fez um pronunciamento bastante emocionado, quase todo ele feito aos prantos. “Tem uma frase que diz: ‘gigantes deixam grandes marcas e grandes caminhos’. Tanto que o maior orgulho dele era nunca ter prejudicado ninguém e isso se via pela quantidade de amigos que recebíamos lá em casa. Da minha parte, também sempre tive muito orgulho dele, um homem maravilhoso que transformou sua vida por meio do conhecimento, que lutava pelos seus sonhos e suas causas, e que sempre teve o controle de suas vontades. Agora essa estrutura faz este sentimento que alimento por ele crescer ainda mais”, pontua. “O Jomah, embora fosse gigante na estatura, tinha um coração quase como o de uma criança, pois não agia movido pela maldade. Hoje este legado vive nesta obra e no coração de tantas pessoas que o amavam”, complementa a secretária da Educação, Marli Gonçalves Costa, que era secretária de Esportes e Lazer na época em que o CIE começou a ser construído.
O presidente da Câmara e o vice-prefeito Ademar Dorschmidt (que não pôde estar no evento, mas enviou áudio com uma saudação aos presentes) falaram a respeito da sensibilidade da atual gestão com as comunidades de maior vulnerabilidade socioeconômicas da cidade. “Toledo tem, de fato, políticas públicas que são conduzidas por uma gestão que enxerga Toledo como um todo e, assim, consegue ser mais assertiva para dar a melhor resposta às principais demandas da população”, observa Dudu. “Para mim, que sou morador do Panorama/São Francisco, o dia de hoje é de muita festa e penso que este também seja o sentimento dos vereadores Genivaldo Paes e Valdomiro Bozó, que também residem nesta região da cidade, que passa a contar com uma estrutura de iniciação esportiva sem igual em nosso município. Deixo aqui meu abraço à família do Jomah, que, de agora em diante, terá seu nome eternizado nesta obra”, cumprimenta.
Por fim, antes do descerramento das placas inaugurais, o prefeito Beto Lunitti disse que orientou os membros de sua equipe a promoverem uma inauguração de uma forma que agradasse a família do homenageado da manhã, ouvindo os parentes em cada fase da preparação. “Era muito importante homenagear o Jomah à altura, pois foram as tratativas dele com o então ministro dos Esportes, Aldo Rebello, que fizeram esta obra vir para cá. E ela chega para a comunidade do Panorama/São Francisco em um momento especial da história, justamente quando o Governo do Estado intenciona investir R$ 80 milhões nesta região, sobretudo na criação da rede de esgotamento sanitário. Também vejo esta boa fase em nossa equipe, com um vice trabalhador e leal, e secretários que estão ‘voando’, entregando as realizações que esperamos deles”, avalia. “Acordamos todos os dias com o firme propósito de construir em Toledo um novo conceito de sociedade, inclusiva. No poder público, inauguração é sinônimo de assumir novas tarefas. Por isso, deixo aqui meu desafio à equipe da Secretaria da Cultura, comandada pela Rosselane Giordani, de fazer um trabalho que resgate a história da imigração de etnias sobre as quais não se fala muito, como a árabe e a de brasileiros vindos do Nordeste. Eles também construíram o nosso desenvolvimento e merecem esse reconhecimento”, propõe.
Quem foi Jomah Hussein Ali Mohd Rabah? Filho de Hussein Ali Mohd Rabah e Farha Hussein Ali Mohammad Rabah, imigrantes da Palestina, Jomah é um dos quatro filhos do casal – os demais se chamam Ualid, Ruayda e Haula. Desde a tenra idade, esteve sempre à frente de seu tempo, liderando os estudantes secundaristas em Toledo no resgate da sede da União Toledana dos Estudantes (Utes), atuando como vice-presidente da entidade, em 1985.
Foi desportista no basquete, defendeu sua escola (La Salle) e a seleção de Toledo. Cursou Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e destacou-se como aluno e no movimento estudantil, tanto que foi homenageado pelos alunos da Unipar que atribuíram o nome dele ao Centro Acadêmico do curso de Direito (CAJAH), resgatando toda sua história de luta – alguns membros deste grupo estavam presentes à inauguração do CIE.
Ainda estudante, casou-se com a bióloga Ana Carla e teve dois filhos, Vinícius e Ana Maria. Começou sua carreira profissional em Maringá, onde se revelou um grande advogado.
Em 1997, mesmo ano em que seu pai, com 75 anos, viajou para Palestina, Jomah retorna para Toledo na condição de renomado advogado, contratado pelo Escritório de Advogados Associados Bonetti. Em 2003, passou a integrar a Silva, Rabah & Merlo (SRH) Advocacia, tendo como uma das sócias sua segunda esposa, Solange Silva, com quem viveu seus últimos 20 anos. Piadista, dizia ser “pai de famílias”, pois além de seus dois filhos, criou como seus os filhos da Solange (Alexis, Marcus Paulo e Gisele), conquistando deles respeito, admiração e muito amor.
Foi professor universitário por mais de 20 anos, juiz leigo por cinco anos, assessor jurídico dos campus Toledo e Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) por oito anos, no campus de Toledo e Cascavel, e assessor jurídico do Município de Toledo entre 2013 e 2016.
Na OAB, foi um importante dirigente, ocupando a vice-presidência da Subseção de Toledo entre 2004 e 2006. Atuou também como conselheiro e membro de diversas comissões (de Prerrogativas e de Direitos Humanos e Cidadania, por exemplo), trabalhando, com a mesma intensidade dos tempos em que era um líder estudantil, sempre em defesa dos advogados.
Amante do conhecimento, Jomah concluiu o mestrado em Processo Civil e Cidadania pela Universidade Paranaense (Unipar/campus Umuarama), o curso de Aperfeiçoamento em Processo Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a especialização em Filosofia do Direito pela Unioeste. Ele também era atuante na área criminal, sua atuação no Tribunal do Júri era sempre um espetáculo, com sustentações orais que eram uma verdadeira aula de Direito Penal.
Enfim, Jomah foi um cidadão que se destacou em tudo que fez: como advogado, professor, ativista, militante, dirigente, desportista, homem público, pai, esposo, colega de trabalho, amigo e irmão. Também sempre honrou o Brasil, pátria que acolheu seus pais de origem árabe, sem nunca abandonar suas raízes palestinas, sendo motivo de orgulho para ambos os países.
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